Há um silêncio que nos espreita devagar, mas inexoravelmente.
Um terrível silêncio que nos causa angustia e nos tortura.
Que solidão absoluta nos espera?
Quando essa garganta escura e fétida nos engolirá para sempre?
E para que confins do mundo será arrastada
a nossa alma atormentada e atônita?
Caminhamos para esse fim, assustados e mudos.
No final, isso, que será a ausência de tudo,
fará com que pareça que nunca estivemos aqui.
Nunca mais o frescor de manhãs perfumadas e úmidas.
E a sombra das árvores projetadas na suave e macia relva.
E a doce melancolia dos entardeceres e o mar, o infinito mar
das minhas lembranças...
Eu quero levar comigo o impossível.
Preciso guardar, dentro, profundamente, no fundo da alma, o barulho
das chuvas nos telhados e a clara e morna luz de certas tardes.
E tenho que levar a tua voz. A tua incrível, doce e perturbadora voz.
E os teus braços... E as tuas mãos...
Como existir, mesmo dissolvida e invisível como o éter,
sem o teu misterioso e denso e estranho olhar.