Vivo o instante
sempre
sempre
E preciso
nas sobras das horas
nas sobras das horas
me embebedar de emoção
Porque tudo foge depressa
acaba
E na mão
os restos escorrem
e se perdem no chão duro e seco
da realidade
da realidade
Nada retenho
Mas vislumbro ainda
por sobre o muro da solidão interior
que alguma coisa fica
Pequenos e frágeis fragmentos
que inundam de luz o porão escuro
das recordações
A doçura de um olhar que iluminou
por um momento a minha vida
e a delicadeza de um gesto de ternura imensa
Lembranças simples e belas
Lembranças simples e belas
como a suavidade de uma folha que lentamente
caiu num final de tarde
Como o cheiro da terra encharcada de chuva
numa manhã de dezembro
e um tempo fugaz em que eu acreditava nas certezas
porque o antigo fervor não volta
E sobretudo
a pedra preciosa de palavras amigas
a pedra preciosa de palavras amigas
Coisas que guardo como o único tesouro que colhi
nesta viagem à procura de coisa alguma.