segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Canção das tuas mãos

                                                           Fotografia de Jac Rizzo
                               
Acordei com olhos
de saudade
com a  lembrança
das tuas mãos
fortes e doces
alvoroçando 
minha alma

Vi em tudo 
a luz brilhando na folhagem
e o perfume no ar
muito claro e sensual

Acordei com os olhos cheios de você

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Lembrança de luas e ventos


Vivo o instante
sempre
E preciso
nas sobras das horas
me embebedar de emoção

Porque tudo foge depressa
acaba

E na mão
os restos escorrem
e se perdem no chão duro e seco
da realidade

Nada retenho

Mas vislumbro ainda
por sobre o muro da  solidão interior
que alguma coisa fica

Pequenos e frágeis fragmentos
que inundam de luz o porão escuro 
das recordações

A doçura de um olhar que iluminou
por um momento a minha vida
e a delicadeza de um gesto de ternura imensa

Lembranças simples e belas
como a suavidade de uma folha que lentamente
caiu num final de tarde

Como o  cheiro da terra encharcada de chuva
numa manhã de dezembro
e um tempo fugaz em que eu acreditava nas certezas
porque o antigo fervor não volta

E sobretudo
a pedra preciosa de palavras amigas

Coisas que guardo como o único tesouro que colhi 
nesta viagem à procura de coisa alguma.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Eterna canção



 A vida é sonora
porque  ri e chora
e  está sempre cantando
à minha volta

E tem cor
porque o vermelho dela
tinge a minha alma

E por fim
ela  se move
porque foge de mim
a cada instante

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Sobrevivência


quase desisto
algumas vezes

as bocas que falam
e não ouço
os olhos que me espreitam
disfarçados
os passos que dou
de rumo incerto
o mistério das coisas
que se esconde

que eterno martírio será esse

o meu desejo
 inerte e desgastado
e minha vontade
inútil

tudo me cansa
e me desgosta

o tédio das ondas
batendo na areia
o brilho das luzes
se abrindo na noite
 até a beleza
me enfada e me fatiga

tudo parece desnecessário

não sei onde encontrar refúgio
onde esconder a alma
assustada e atônita

preciso ser invisível
pra sobreviver


segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Em vão



Meus planos
ficam suspensos
no ar

Eles não deitam
no chão

Não os deixo
brotar

São sonhos
só sonhos
em vão

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Ao vento


Não leve ao 'pé da letra' o que o poeta escreve
Nem ouça o que ao vento ele espalha
O poeta é volúvel
Não se espante
São palavras
Só palavras
E ele as joga por aí sem pudor
Ele as deita em qualquer esquina

Que os poetas 
Não se pode prendê-los
São meninos
São meninas

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Expectadora




  Esse lado mais obscuro de mim
mais escondido
é o lado que mais eu sou

 Pedaço que pensa calado
que distraído observa o mundo
vazio de dor ou alegria

Pedaço de mim ateu
                                                                           

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Inatingível


Andar ao lado da ausência
e não ser
Cantar a música
                                  do nada
Dançar sobre o oco
                                   da vida

Talvez eu até nem durma

E acorde esquecida

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Passageira


Tudo, às vezes, me estranha

Estranho tudo, às vezes

Espanto e surpresa
 me acompanham

Ser estrangeira é minha sina


segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Sensação antiga



 Lá fora o inverno
anda a arrastar os sonhos

Com um vento gelado
derruba tudo
alma e folha


Deixa cinza e mar revolto




terça-feira, 7 de junho de 2011

Nas asas do amor


O tecido da minha vida, fio por fio, foi composto de forma ordenada. Mas as lembranças são feitas de pedaços amorfos, tão movediços como a areia das dunas. Como contar uma vida? Como explicá-la? Precisaria  quebrá-la, fragmentá-la  e, mesmo assim, nada teria de mim. Nem um pedaço sequer. O que somos é tão profundo e tão complexo, que ninguém, nem mesmo nós, ousamos chegar perto.  A única coisa que nos aproxima desse mistério, nos consola, nos suaviza, nos reconcilia com o passado, é o amorSó ele nos devolve a fé e a confiança. Temos tudo embaixo das  asas acolhedoras dele. Nos sentimos protegidos das amarguras e desencantos.  E se ele é grande e forte, torna claro e luminoso o que era  ambíguo e obscuro.  Reinventamos, então,  nossas lembrançasNos inventamos. Podemos, enfim, nos contar.


domingo, 15 de maio de 2011

Deleite



Os teus braços
que me enlaçam
sem véus
são o abraço dos céus

O latejar da vida


As vezes em que não durmo
não é o sono que me falta

é a vida que me bate à porta
com  estrondoso barulho


segunda-feira, 11 de abril de 2011

Mareamar


Atrás do teu olhar verde de candura
o mar se espraia
se espreguiça

Depois vem a ressaca
ou a maré vazante
e tudo vira antes

terça-feira, 5 de abril de 2011

A insustentável leveza



Penso nas nuances
no branco que não é bem branco
no vermelho que desbotou
no azul que às vezes me parece verde
 
Só me compreendo nas gradações infinitas
nas variedades intermináveis de tonalidades e matizes

As diferenças delicadas me explicam
sobrevivo no limiar entre a força e a doçura

E a minha alma vive nas intermitências
do que é e o que parece ser


sexta-feira, 25 de março de 2011

Exercício de ser


Escrever com esses espinhos à minha volta , é muito difícil. Eles me tiram do foco, embaçam a minha visão, distorcem o sentido das palavras, põem disfarces nos meus  sentimentos,  tranportam minhas idéias para outros momentos, outras realidades. Isso me faz ser quase uma  criatura diferente nesse universo imenso que todos e cada um de nós é. Talvez isso tudo me acrescente, me faça surgir uma  outra...Como vou saber?!! Vivo cada uma ou várias numa só. 
Tudo existe em mim ou nada. Sou uma multidão algumas vezes,  rica nessa multiplicidade existencial, ou sózinha e frágil, nessa teia  que me isola e me faz única e inatingível. Luto contra as minhas  idiossincrasias. Batalhas sangrentas que  ferem e exaurem minhas forças. 
De repente, posso me transformar num ser cansado e enjoado de tudo.

Mas a vida é sempre maior! Ela joga em meu caminho o mel puro da esperança e do encanto. E tudo se abre numa janela de luz infinita e clara! 
Colho flores no meio dos espinheiros...

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Milagre

Quero uma tarde azul 
de milagres
com revoada de flores

Uma tarde feliz
que desenhe no ar
um vôo
uma dança

Quero de novo
ser criança

Visceral


Escrevo com o estômago
algumas vezes
Quando ele está virado pra dentro
contorcido num nó
Meu estômago sente saudade
ama e reclama 
Meu estômago fica vermelho
de paixão
E às vezes
é mais que meu coração
É onde mora
a minha emoção


sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Às vezes...


Não fui embora pra Pasárgada. Penso, agora, se irei para Faro  visitar a Praia de Jauari no distante Pará. Tão longe  para mim que vivo no Rio de Janeiro, de frente pro mar, mas ressentida de não estar para sempre entre coqueiros e palmeiras e mar translúcido, batendo em areias desabitadas, perdida em lugares ermos e descampados. Esse desejo estranho e incomum me causa aflição e agonia. Sou assim...Às vezes, preciso dos desertos, dos imensos silêncios, das profundidades abissais aonde nada vou encontrar a não ser a própria imagem refletida nas paredes escorregadias do tempo.
Às vezes sou assim...


terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Sobrevivência


A poesia anda nua
      desenhando 
 espaços
pra sobreviver

É preciso resistir
       ser forte
    insistir

  Por isso na esquina
       porto uma bandeira 
    abraço a vida
  e  me visto de poeta


segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Prisão


Há palavras em mim
que não deixo sair

São loucas
desesperadas

Preciso guardá-las
amordaçá-las

Há palavras em mim
impuras
obscenas

Me calo
só deixo um grito
ferir o espaço

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Ando meio distraída...


Tenho andado longe, distante. Perdida no meio de florestas tropicais, ouvindo o ruído das chuvas, conversando com o nada ou escutando o barulho dos grandes silêncios. 
O estrondoso barulho do nada!

Tudo que eu ainda não conheço bem, escandalosamente se debruça em meu caminho. Os beirais das minhas varandas vivem encharcados de lembranças antigas e estranhas.
E eu vivo assim, distraída e doce, sob a luz do meu novo e último amor.