quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Na fragilidade do instante



Sentei para escrever alguma coisa, e aí lembrei que não precisava escrever. Não necessáriamente. E, se quisesse, nunca mais escreveria uma palavra sequer. Lembrei de Rubem Braga..."estou cansado; quero parar, engordar, morrer". Mas as emoções que o olhar e a  alma acrescentam em minha vida, me provocam erupções na pele,
erosões no coração.
Sou um ser aflito, perdido num turbilhão de sensações.
O vento de um novo amor, pode, de repente, me transportar
para o vácuo de um mundo desconhecido.
Então, posso ficar tateando, por tempo infinito,
sem descobrir aonde estou, aonde fica esse lugar
que me põe estrelas no caminho e afasta o jardim
de águas e pedras por onde, sozinha, meditava.
Que surpresa, que espanto me sacode as entranhas.
Posso, nesses instantes de alvoroço emocional, sentir o estômago
em convulsão. Sou um ser virado do avesso.
Mas, sobretudo, sou um ser que estende o braço, num gesto de ternura imensa, querendo tocar o outro.

Sentei para escrever alguma coisa...



sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Canção de ser sozinho


 Foto de Marta Bucher

Um elo de uma corrente... solto.
Somos assim como as folhas
que se desprendem das árvores.
 O vento escolhe  o caminho.
Batemos aqui  e  ali,
escorregando  em  calçadas,
tocando em  vidraças,
 janelas que nunca entramos.

Não pensar
ou pensar pouco,
sem surpresa ou espanto.

Transpor o tédio das horas
sem esforço,
como uma margem sem rio.
Atravessar as tardes
sem esperar milagres.
É tudo.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Sobras

Tento descobrir  sentimentos,
embaixo dessas nódoas de tempo.
Mas tudo se esconde,
desaparece em forma gasosa;
vira vapor, fumaça, nuvem.
Então me volto para o toque
da noite infinita no alto do céu,
para os beijos de estrelas,
abraços de luas.
Persigo rastros de emoções,
nas sobras dos olhares
e seguro nas mãos,
restos de amores...