quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O anjo torto

Tela de Vincent Van Gogh
Para um amigo querido, que não
consegue dissipar as brumas
da sua vida.

Ele queria se levantar, claro que queria.
Mas o peso de suas escolhas, lhe prendiam definitivamente ao chão.
E era um anjo. Um doce e terno anjo.
E sem asas e sem céu e sem poder voar,
não sabia mais o seu lugar.
Vagava na noite por bares sujos e estranhos.
Ao lado, às vezes, de gente que não o conhecia, não o compreendia.

Nos momentos de solidão e vazio insuportáveis, fingia felicidade, se arrastando ao lado de  companhias que, sequer por um segundo,  poderiam visitar seu mundo.
Mas ele voltava sempre para o seu quarto confuso, onde  coisas esquisitas e preciosas,  se amontoavam em  prateleiras.
Coisas que quando estendia a mão  para pegá-las, 
desapareciam no fundo buraco  negro da sua história.
Ali, de cabeça baixa, entre surpreso e abatido,
tentava resgatar a vida que passara.
Mas as lembranças iam e voltavam, desencontradas, 
desfocadas pelo tempo.

E era só um anjo que sonhava  sozinho.
Que se embriagava todos os dias de sua humanidade.
E assim, sem ombro pra encostar a alma cansada e triste,
chorava  os amores que não pudera segurar
e as coisas todas que quebrara.


5 comentários:

  1. São tantos os anjos tortos!!!!!!
    Conheço alguns!
    Lindo seu texto, super claro!

    Beijo

    Ala

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  2. Obrigada, Ala!
    Você achou o texto claro,
    porque ele é real.
    É uma história de inadequação,
    contada em poucas palavras.
    Precisaria existir um lugar
    especial, uma espécie de 'planeta'
    para os anjos tortos...Beijos.

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  3. Conheço alguém assim... com um quarto mágico, cheio de coisas significativas e luzes piscando... Ah... um velho piano no canto... Perfeito seu texto. Bj.

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  4. Conheço alguém assim... Com um quarto mágico, cheio de coisas significativas, luzes piscando e um velho piano no canto. São poucos os anjos perdidos mas nos tocam o coração. Bj.

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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