terça-feira, 8 de junho de 2010

"Há folhas no meu coração"



 Somos nós que andamos ou é o tempo que caminha embaixo de nossos pés.  Não sei. Ele nos põe no corpo o pó  das horas consumidas. Sem dó. Caminhamos juntos, talvez. Mas não estreitamos nossos laços. O tempo não faz amigos.  Ele paira por aí eternamente  e rouba tudo de nós. Nos olha com desdém  e ri da nossa pequena vida atrapalhada. Sabe que vamos embora, desaparecer, e deixar um imenso vazio de arrependimentos  para trás. Coisas que ficaram inacabadas. Horas mal vividas. Dias desperdiçados. Anos mastigados vagamente, sem vontade.

Tudo já começa a me doer. Morro antes de morrer. De lenta morte prematura.

E seguimos assim, na vida. Vamos caminhando sem sentido, insanos nesse precário destino. Ele - o tempo - num total desprezo pelo nosso entardecer. E nós, tentando segurá-lo no vão de cada manhã. 



7 comentários:

  1. jac, a sua maneira "fácil" de escrever faz com que esses nossos questionamentos existenciais se tornem mais suaves. quando digo "facil" não é de maneira negativa, muito ao contrário, raramente as pessoas têm esse dom de escrever de maneira tão água corrente. a fluidez do seu texto é como água de rio que corre suavemente, independente de obstáculos.
    mas em relação ao tempo, sabe, tornei-o estático. quem passa sou eu. ele apenas me olha com o despeito, ou vontade, de quem não se move.
    estanquei-o para nunca mais. cansei-me do tempo me conduzindo, me impondo horas, mortes, locais, encontros e nunca mais... bom, procuro ac4ditar nisso... rs rs rs...

    belo texto!

    beijos.

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  2. Rubens, já escrevi sobre esse sonho
    de simplicidade em "está chovendo na roseira". Vivo querendo voltar para um lugar que já perdi. Lá, na minha infância, não existiam relógios e eu não fazia contas.
    Rubem Braga, o meu eterno cronista disse:
    "Precisamos apenas viver - sem nome, nem número, fortes, doces, distraídos, bons, como os bois, as mangueiras e o ribeirão"
    Acrescento..seríamos, então, completamente felizes. Mas a complexidade da vida, logo me alcança, e eu vou adiando meu sonho..

    Este blog é para eu brincar mesmo.
    Para respirar melhor.
    Mas também, para 'conversar'
    com gente como você. Adoro essas trocas!

    Obrigada!

    Beijos.

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  3. Jac, enquanto leio seu texto, percorro esse (des)caminho atalho, imaginando o que o tempo me reserva para além dessa curva de rio. Imagino ali adiante uma outra vida, menos fugaz, mais ensolarada...
    Um beijo.

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  4. Oi, Jac, belo texto sobre nossos encontros e desencontros.
    Uma maneira muita agradável de ler pelo fato de ser escrito com simplicidade, aliás, o que é muito difícil. E sobre este nosso curto tempo de espera... Às vezes penso, outras fujo. A gente sabe quem acabará vencendo.

    Beijão e meu carinho.
    Tais Luso

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  5. Lulih, a vida vai nos pondo surpresas
    no caminho. Não se preocupe em adivinhar
    o que virá. Pegue o que é bom e o que
    não for, jogue fora.
    Gosto de 'vê-la' por aqui.
    Beijos.


    Tais, procuro sempre o trajeto mais
    simples e claro. Meus pensamentos é
    que insistem em percorrer caminhos
    complicados. Mas as palavras se
    encarregam de depurá-los.

    Você é muito bem-vinda!
    Beijos.

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  6. sabe, jac, essa coisa de querer voltar a um lugar perdido é interessante. quando entrei na escola, no primeiro ano primário, na hora do recreio a escola dava aos alunos um pãozinho com leite condensado. era a dona cinira, servente, que ia nos levar os pãezinhos, sempre dentro de uma caixa de papelão. anos se passaram e perdi meu contato com essa lembrança... com a dona cinira. quarenta e tantos anos depois fazendo uma matéria sobre educação fui entrevistá-la. ao vê-la, velhinha mas com o mesmo jeitinho, me veio aquele gosto do leite condensado na boca e uma vontade de chorar. só consegui dizer a ela que, sem saber, procurei a vida toda por aquele sabor e só agora ele tinha voltado à minha boca. leite condensado algum me daria hoje esse gosto. nada me daria esse gosto. nada mais vai me dar esse gosto.
    lembrei-me disso e deu vontade contar... rs...

    beijão carinhoso.

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  7. Rubens, isso que você escreveu, me fez lembrar
    'rosebud'..para sempre perdido, mas guardado no fundo da alma para sempre...

    Meu carinho!

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