segunda-feira, 31 de agosto de 2009

De uma ausência inventada


Tela de Henri Matisse


Sim, Vinicius, precisamos conjugar a ausência.
Precisamos do ausente, dizer do vazio que ficou.
É necessário que ele saiba das batalhas que travamos,
das guerras que perdemos, das casas que habitamos,
da poesia que dissemos e da longa espera
olhando para o longe, para o infinito distante.

Devemos lhe contar, com o olhar baixo e triste, dos amores
que perdemos. Porque essa é sempre a perda que mais dói.
É inevitável que ele saiba que as  flores murcham sem ele.
Que não há  jardim. Que outoniço sem a sua presença.
E, mais que tudo, é indispensável que ele saiba, que a escada que
nos levava para o céu partiu-se, e que um deserto instalou-se.

E entre admirada e atônita, como uma criança, acendo estrelas
para iluminar a sua volta.


"Vejo-te em cada prisma, refletindo
Diagonalmente a múltipla esperança
E te amo, te venero, te idolatro
Numa perplexidade de criança."

Vinicius de Moraes em Conjugação da Ausente

4 comentários:

  1. Jac, que bom beber um pouco dessa sua leveza para acompanhar minha recente descoberta de que a vida tem um novo adjetivo: setembro. Sim, pense em setembro como um adjetivo, e quando você acordar com os mais doces raios de sol pulando a janela para dentro de seu quarto, pense: puxa, que dia setembro... Ou quando receber na rua um sorriso delicioso, conte a alguém: recebi um sorriso setembro. E por aí afora.
    Beijos mil.

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  2. Obrigada pela visita, Quinan e Marcelo! Beijos.

    E Lulih, suas palavras são sempre flores...
    Que o resto do ano seja setembro para você!
    Muitos beijos.

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