Se acostumar com alguma coisa... Huummm... Não conheço nada mais reacionário que isso! ' Se acostumar' me faz pensar em coisa parada, estática, como água apodrecendo estagnada, sem poder correr, respirar, se oxigenar!
A facilidade nos embota a alma. Nos amarra ao chão. Nos cega. Perdemos os sentidos todos. Ficamos burros, não sentimos mais os sabores, não enxergamos as cores, não ouvimos os sons como eles são de verdade e toda a superfície em que passamos a mão tem a mesma textura, o mesmo relevo, a mesma temperatura.
É, burros de corpo e alma! Vivemos, mas do mesmo jeito sempre. Todos os dias passam a ser os mesmos enfadonhos dias. Tudo sabido, tudo esperado, tudo adivinhado. A vida é a mesma... Insípida, inodora e incolor! Ela se transforma em tudo o que não é para ser!
Nascemos para o novo, o inesperado, para o que nos faz esquecer que vamos partir. Para o que só nos lembra chegadas!
A vida sem isso se extingue rapidamente! A mesmice nos mata. Ainda bem que um dia acordamos estremecidos no desgosto de nós mesmos. Deixamos de ser anjos ineficazes a bater asas no vazio. E descobrimos que o essencial é renascer! Que o mais importante é nascer desse torpor, uma segunda vez!
Acordamos um belo dia, finalmente, mais distraídos e ateus. Já não somos o antigo em nós! Somos o novo que nasce e corre para ver o mundo de outro jeito.
E quem como nós, não se acanha de encontrar a poesia, de abrir as portas da emoção, de estender os braços para os amigos verdadeiros, de se dar, de entender de repente, a linguagem de novos sentimentos, de conversar com flores e estrelas e luares e sonhar acordado com a beleza da vida, novamente inaugurada, então sim, pode se juntar a nós numa grande e fraternal corrente. Somos todos os escolhidos, os reféns da ternura, para sempre presos à esses pequenos/grandes amores que a vida põe à nossa frente, em nosso caminho!
"Ser totalmente 'normal' é insuportavelmente fastidioso, um inferno de esterilidade e de desespero."
Carl Gustav Jung
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