quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Um Poeta...

É bom escrever sobre quem gosto! As palavras saem fácil, leves e soltas. Na verdade, elas saltam felizes, com vontade de ganhar rápido um espaço no papel, de ganharem vida, existirem por um momento no dia-a-dia de alguém! E eu gosto dos poetas! Principalmente, amo a alma dos poetas!

Li e fiquei fascinada com a idéia, que deus no oitavo dia criou os poetas! E os loucos! Claro, se ele trabalhou por seis dias e descansou no sétimo, nada mais sensato que ele depois desse repouso, tranquilo e inspirador, criasse essas criaturas que enfeitam a vida e dão significado à existência!

Os fortes relogios
dão razão à hora cindida, roucos.

Tu, presa nas tuas profundezas, somes de ti
para sempre."
A poesia, nasce sempre de emoções, e quando ela surge, vinda de sofrimentos mais profundos, é uma afirmação de humanidade muito grande e uma expressão de beleza imensa!

Pois Paul Celan, poeta de língua alemã, nascido na Romênia, conheceu o terror da guerra, da intolerância dos homens, do desamor do mundo! Celan foi um sobrevivente dos campos de concentração. Ele consegue fugir, mas seus pais morrem sob a irracionalidade nazista. Li, certa vez, que depois de um campo de extermínio, não é - ou pelo menos não poderia ser - possível escrever poesia.

Mas Paul Celan fez poesia e é hoje considerado um dos mais importantes poetas modernos, do pós guerra. E em suas palavras, na delicadeza imensa de suas emoções, percebemos que a beleza e os sentimentos podem abrandar a violência e a estupidez dos homens. Ele nos mostra, de forma comovente, que é possível sim fazer poesia! Que são palavras e emoções que limam a ignorância do mundo!

É interessante a observação que li sobre a relação dos escritores e seus textos. 'Em que medida a vida real de um poeta, importa para o poema?' E no instante seguinte já responde 'temos que reconhecer que a vida de um poeta também recebe as marcas de seus poemas: ela é habitada por eles!' Particularmente, penso que elas se misturam, vida e palavras e poesia e arte. São estreitamente ligadas! Inseparáveis!

"Quem arranca do peito seu coração para a noite, deseja a rosa.
São seus a folha e o espinho,

sapara ele ela põe a luz no prato,
para ele ela enche os copos com sopro, para ele murmuram as sombras do amor.

Quem arranca do peito seu coração para a noite e o atira alto:
não erra o alvo
apedreja a pedra, a ele bate o sangue do relógio,
para ele sua hora soa o tempo na mão..."
Os poetas conhecem melhor as dores do mundo e suas contradições. Os poetas conhecem mais do bem e do mal do que qualquer tese de todos os filósofos.
Os poetas conhecem com o coração e a emoção!

Mas num dia, em que sentia mais profundamente a hostilidade do mundo, Paul Celan suicidou-se nas águas do Sena. Levou sua vida, mas deixou a sua poesia! E a humanidade não sobrevive sem poesia e beleza. Seria muito cruel e escura e triste a existência!

Paul Celan também duvidou da legitimidade e da possibilidade de escrever poesia depois de Auschwitz. Mas fez dessa dor lancinante e da própria dilaceração, a essência de seu altíssimo e quase impenetrável lirismo.

Celan saltou do abismo de sua dor para a luz!

"Da mão o outono me come sua folha: somos amigos.
Descascamos o tempo das nozes e o ensinamos a andar:

o tempo retorna à casca.
No espelho é domingo,
no sonho se dorme,
a boca não mente.
Meu olho desce ao sexo da amada:
olhamo-nos,

dizemo-nos o obscuro,
amamo-nos como ópio e memória,
dormimos como vinho nas conchas,
como o mar no raio sangrento da lua.
Entrelaçados à janela, olham-nos da rua:
já é tempo de saber!

Tempo da pedra dispor-se a florescer,

de um coração palpitar pelo inquieto,
É tempo do tempo ser.. É tempo."

Um comentário:

  1. Sem dúvidas que o sofrimento que nos faz mais fortes. Não conhecia esse poeta, vou procurar saber mais.

    Beijos

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