terça-feira, 6 de abril de 2010

Sobre a canção possível


Houve um instante em que foi preciso nascer. Mas ainda assim, não me livrei de um território nebuloso. O mundo  é um lugar hostil, de caminhos misteriosos. Vivo buscando delicadezas,  levezas,  suavidade e sensibilidade em lugares errados. Queria o mundo claro e feliz. E vejo ele escuro e sombrio, muitas vezes. Nasci sem saber a solução de problema algum. Nem sequer, com uma questão colocada. Não. Nada. E fui crescendo sem saber aonde encostar minhas perplexidades. E as horas passaram rápidas, correram, voaram. Num instante já eram dias, meses, anos. E eu tentando decifrar o indecifrável. Daí por diante, vivo assaltada de pressentimentos, colecionando perdas e alguns ganhos. Quando penso em entrar num estado quase vegetal de comtemplação, alguém me arranca de lá. Então, penosamente,  recomeço. Morro muitas vezes, sem me dar conta. Da última vez,  estava olhando o mar. E fiquei tão pequena ali, na frente dele, que  desapareci. Foi difícil voltar. Nasço sempre penosamente. Sem querer. Experimento na tristeza das coisas o meu medo. Mas, de repente, o morto desperta. Sai desse torpor para uma verdadeira agonia existencial.
Talvez seja possível sobreviver. Recuperar amores que ficaram paralizados, inconclusos. Buscar no esgarçado tecido do tempo, o próprio tempo perdido. Talvez...

2 comentários:

  1. Ah, Jac, quanta beleza nesse morrer diante do mar imenso. E quanta renovada esperança nesse renascer, mesmo que penosamente. Vc não percebe isso?
    Há algo maior que o mar no mar, no céu, nas galáxias e dentro de ti. E esse algo tb "não se tece com palavras"... É uma espécie de "protopoesia"... rs
    Te deixo um abraço fra/terno

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  2. Encantada com sua visita inesperada!
    Uma visita nova, que me traz beleza e sensibilidade, como um galho novo
    que surge na árvore, ou uma folha,
    uma flor..

    Meu carinho, Eurico!

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