se instalando devagar.
Um ventinho que
sopra mais frio, uma certa
melancolia, e aí percebo,
claramente, porque as
pessoas no verão são
mais alegres, mais
barulhentas mais extrovertidas.
O verão nos chama pra rua, nos convida a bebericar pelos bares, nos convoca a ser alegres, a achar graça da vida.Por que ele precisa passar tão depressa...Não quero pensar, mas quem pode segurar o pensamento...O tempo é como a água em nossas mãos. Não podemos detê-lo!
Então lembrei de Pablo Neruda em um dos melhores momentos da sua poesia. Quando ele vai buscar dentro dele o menino que foi e que acredita perdido.
Mas nunca perdemos nada do que fomos ou vivemos. Vamos, pela vida afora, carregando multidões de nós mesmos. E guardando para sempre, os meninos e meninas que fomos. De vez em quando, eles gritam!
"Lenta infância de onde como de um pasto comprido
cresce o duro pistilo, a madeira do homem.
Quem fui? O que fui? O que fomos?
Não há resposta. Passamos. Não fomos. Éramos.
Outros pés, outras mãos, outros olhos.
Tudo foi mudando folha por folha na árvore. E em ti?
Mudou a tua pele, o teu cabelo, a tua memória.
Aquele não foste.
Aquele foi um menino que passou correndo
atrás de um rio, de uma bicicleta,
e com o movimento foi-se a tua vida
com aquele minuto.
Dia a dia as horas se amarraram,
mas tu já não foste,
veio o outro, o outro tu.
mas tu já não foste,
veio o outro, o outro tu.
A máscara do menino foi mudando,
aquietou-se o seu volúvel poderio.
O sorriso, o passo, o gesto voador,
o eco daquele menino nu que saiu de um relâmpago.
Era outro o homem e o levou emprestado.
Até que nada foi como tinha sido,
e de repente apareceu no meu rosto um rosto de estrangeiro
e de repente apareceu no meu rosto um rosto de estrangeiro
e era também eu mesmo: era eu que crescia,
eras tu que crescias, era tudo,
eras tu que crescias, era tudo,
e mudamos e nunca mais soubemos quem éramos.
E às vezes recordamos aquele que viveu em nós
e lhe pedimos algo, talvez que se recorde de nós.
Que saiba pelo menos que fomos ele, que falamos
com a sua língua, mas das horas consumidas
aquele nos olha e não nos reconhece."
*Transcrevi apenas alguns trechos, porque é muito longo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário