quinta-feira, 26 de março de 2009

O menino perdido



Senti um arrepio à tardinha e me lembrei que é o outono chegando, 
se instalando devagar. 
Um ventinho que 
sopra mais frio, uma cert
melancolia, e aí percebo, 
claramente, porque as 
pessoas no verão são 
mais alegres,  mais 
barulhentas mais extrovertidas. 
O verão nos chama pra rua, nos convida a bebericar pelos bares, nos convoca a ser alegres, a achar graça da vida.
E meditei sobre o tempo. 
Por que ele precisa passar tão depressa...Não quero pensar, mas quem pode segurar o pensamento...O tempo é como a água em nossas mãos. Não podemos detê-lo!

Então lembrei de Pablo Neruda em um dos melhores momentos da sua poesia. Quando ele vai buscar dentro dele o menino q
ue foi e que acredita perdido.

Mas nunca perdemos nada do que fomos ou vivemos. Vamos, pela vida afora, carregando multidões de nós mesmos. E guardando para sempre, os meninos e meninas que fomos. De vez em quando, eles gritam!

 
"Lenta infância de onde como de um pasto comprido 
cresce o duro pistilo, a madeira do homem.
Quem fui? O que fui? O que fomos?
Não há resposta. Passamos. Não fomos. Éramos.

Outros pés, outras mãos, outros olhos.
Tudo foi mudando folha por folha na árvore. E em ti? 
Mudou a tua pele, o teu cabelo, a tua memória.
Aquele não foste.

Aquele foi um menino que passou correndo 
atrás de um rio, de uma bicicleta, 
e com o movimento foi-se a tua vida 
com aquele minuto.
Dia a dia as horas se amarraram, 
mas tu já não foste, 
veio o outro, o outro tu.
A máscara do menino foi mudando, 
aquietou-se o seu volúvel poderio.
O sorriso, o passo, o gesto voador, 
o eco daquele menino nu que saiu de um relâmpago.

Era outro o homem e o levou emprestado.
Até que nada foi como tinha sido, 
e de repente apareceu no meu rosto um rosto de estrangeiro
e era também eu mesmo: era eu que crescia, 
eras tu que crescias, era tudo,
e mudamos e nunca mais soubemos quem éramos.
E às vezes recordamos aquele que viveu em nós 
e lhe pedimos algo, talvez que se recorde de nós.
Que saiba pelo menos que fomos ele, que falamos 
com a sua língua, mas das horas consumidas 
aquele nos olha e não nos reconhece."

*Transcrevi apenas alguns trechos, porque é muito longo.


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