terça-feira, 13 de janeiro de 2009

A poesia é melhor


Eu era criança ainda, quando ouvia meu pai contar do Barão de Itararé. Guardei para sempre esse nome na lembrança! Algum tempo mais tarde, ganhei um livro dele.

Apparício Torelly, esse era o seu verdadeiro nome. Gaúcho, poeta, jornalista, matemático, cientista, político, teatrólogo, mas foi como humorista que ficou conhecido.


Acho que ele foi o grande inspirador da turma que fundou o Pasquim. Veio pro Rio em 1925 e foi trabalhar n´O Globo. E é aí que a história dele começa de fato. Pouco tempo depois, troca de jornal, indo para ‘A Manhã’. Adota, então, o nome de Barão de Itararé e mais tarde, funda A Manha, numa ironia ao outro. Terrível ele era!! Nesse ‘pasquim’ fazia gozação de tudo. E em plena ditadura de Getúlio Vargas, foi preso e espancado diversas vezes e teve seu pequeno/grande jornal fechado em várias ocasiões. Mas parece que nada lhe fazia calar a boca!


Ele era uma espécie de Mencken tupiniquim, nosso iconoclasta! E de uma inteligência e humor muito agudos! Fazer rir é mais difícil que fazer chorar, dizem, e ele fazia as pessoas rirem! Há todo um foclore em torno de sua figura. Dizem que certa vez, numa aula de anatomia, ( ele estudou medicina...curso que nunca terminou) um professor lhe fez a pergunta: ‘Quantos rins nós temos?’ Ele nem piscou: ‘Quatro’, disse. E antes que o professor tivesse um ataque de espanto, explicou: ‘ Dois eu e mais dois o senhor.’ Muito irreverente ele era!


Dizem também, que após ser espancado por militares, na ditadura de Getúlio, pendurou na porta de sua sala, uma placa com a inscrição ‘Entre sem bater’. Algumas de suas frases foram incorporadas para sempre ao anedotário nacional. ‘ Há algo no ar, além dos aviões de carreira’... quem não conhece! Ele foi o senhor das frases! Colocava em seu jornal, manchetes do tipo ‘Haja o que houver, aconteça o que acontecer, estaremos com o vencedor’.


Também gosto quando ele define banco como uma instituição que empresta dinheiro, se você apresentar provas de que não precisa dele! Cada vez que era preso, dizia que se enclausurava para meditação e retiro espiritual.

Mas uma das coisas mais geniais que disse, foi um pouco antes de morrer, justificando a morte: ‘O triunfo duma revolução socialista definitiva, que reduz os seres dos três domínios – mineral, vegetal e animal – a uma classe única’.


Apparício Torelly foi, talvez, o rei da imprensa alternativa. E se autodefinia como ‘um marxista esotérico’ . Hoje, acho que seu sucessor mais legítimo seja Millôr Fernandes! Mas você pode discordar, se me explicar as suas razões...e pricipalmente, se você conhecer outro tão transgressor quanto o barão, por favor, me informe...vamos polemizar!


E mais que tudo, ele considerava a ciência uma arte.


E a poesia, claro, o mais alto ramo das ciências!



2 comentários:

  1. O Barão também usava novidades gráficas, com montagens fotográficas e fotos retocadas para servir ao texto, quando incentivava na imprensa brasileira crítica incisiva à política e à sociedade.
    Como disse Jorge Amado no livro "Entre sem Bater! (Ediouro)" de Luís Pimentel, ‘Desse senhor Barão de Itararé, de seu riso claro e irresistível, nasceram os atuais humoristas brasileiros, os que desenham, os que escrevem, os que desenham e escrevem’.

    Quanto a Millôr Fernandes ser seu sucessor mais legítimo, não discordo, mas também não concordo.
    Estranho, né?

    Acho que o Millôr as vezes se faz legítimo e outras vezes não.


    Beijos Jac.

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  2. Pois é...
    Acontece que sou fã do Millôr!
    Dessas de carteirinha, sabe?
    Desde menina gosto dele.
    Vc que é um saudosista do 'O Cruzeiro'
    deve admirar o Vão Gôgo, não?
    Essa foi uma das criações geniais dele!

    Venha sempre, Rogério.
    Bjo.

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