terça-feira, 14 de abril de 2009

O acaso...


Pura
coincidência. Foi só o acaso que me fez abrir um livro e ler "na noite de 14 de abril de 1912, ele chocou-se com um iceberg e afundou na madrugada do dia 15 de abril de 1912". Uma mera casualidade sem nenhuma importância.

A vida está cheia desses encontros fortuitos. Pequenos acontecimentos que se prendem a leis ignoradas e que, às vezes, nem percebemos, tão insignificantes são.

Aprendi com o tempo, a prestar um pouco mais de atenção às coisas à minha volta. Mas não para ser detalhista - o que não suporto - mas para olhar melhor o mundo mesmo. Digamos que uma forma egoísta de absorver mais coisas, de tentar dilatar meu microscópico universo.

Eu era ainda uma garotinha quando ouvia com muito interesse contarem essa história: O naufrágio do Titanic! Via as fotos dos 'icebergs' nas revistas e nos livros e ficava fascinada por eles. Na verdade são lindos pousados no mar, pacíficamente, branquinhos como flocos de algodão. Alguns parecem nuvens caídas do céu. É que tudo pode ser visto de várias maneiras.

E metida com os livros como sempre, descobri que um poeta inglês havia feito um poema para essa tragédia. Thomas Hardy, tinha traduzido em versos, exatamente esse sentimento em relação à simultaneidade de fatos. Tudo que a nossa fantasia cria em torno disso. Tenho a impressão que essa catástrofe povoou a imaginação de todos nós.


E me dei conta, então, que se tratava de uma história de coincidências. Costumamos dizer 'se eu não tivesse feito isso, se eu não tivesse feito aquilo. Sempre temos um 'se' na nossa vida. Mas esse poeta diz que em seus devaneios, imaginava o fatídico 'iceberg' se desprendendo de uma geleira, imenso, ganhando uma corrente marinha e começando a deslizar para cumprir o seu suposto destino. É uma visão romântica, poética, afinal ele era poeta.


Pura fatalidade, sem maiores consequências se não fossem as coincidências. Afinal com muita frequência, devem se desprender 'icebergs' por esses mares gelados.

Acontece que na mesma rota dessa parede imensa de gelo, no mesmo caminho, um luxuoso navio, o maior e melhor que existia no mundo, deslizava também. Essa é a trágica história de um encontro marcado! Os ponteiros do tempo queriam ali acertar diferenças. Aí está a sincronia, essa simultaneidade de fatos que se juntam, e às vezes, de forma tão macabra!

Lá estava, naquele poema de Thomas Hardy, o Titanic crescendo em tamanho e graça, navegando naquelas águas geladas. Mas longe também crescia em silêncio o 'iceberg'.

Estranhos um ao outro, mas inexoravelmente ligados. À mercê do tempo e seus caprichos! Pois somos todos impotentes a essas fatalidades. Esses destinos trágicos não podemos prever. Não temos o poder de interpretar o texto que nos precede. Essa espécie de gratuidade cósmica está aí, nos espreitando em cada esquina.


São histórias marcadas por coincidências ! E nenhum 'se' fará com que desviemos nossas rotas, porque acredito que são só fatalidades.


E um poeta disse certa vez, ouvindo um saxofone numa estação de subúrbio distante, que havia adivinhado o resto de sua vida... Meu querido, os poetas podem adivinhar as suas vidas e decifrá-las!


Há sempre um farol, sempre uma tocha acesa,
qualquer luzinha, esperando num porto qualquer.
E quando o nevoeiro permite, às vezes,
conseguem ancorar suas embarcações.

Senão, ficam perdidos, contando as estrelas no céu...



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