sexta-feira, 24 de abril de 2009

Uma gaivota na manhã


Ela veio descendo, perdendo altura, se aproximando e passou rente à minha janela.
Era de manhã e o dia era claro e azul.
E essa gaivota planava suavemente.
Vinha tirando rasantes das amendoeiras que se estendiam
no alto de suas copas, feito braços no ar.
Mas as amendoeiras não voam.
Estão como nós presas em suas raízes.


A gaivota voava e sentia no corpo o vento que trazia o cheiro do dia claro.
O ar era leve e fresco essa manhã.
E, de repente, me veio vontade de ser gaivota,
de ganhar o espaço e me desprender de medos
e angústias e preocupações mesquinhas.
Pobres seres atormentados que somos.
Não temos tempo de ver a beleza das coisas.
Quase tudo nos escapa, apressados que estamos atrás do que não nos faz felizes!

Essa gaivota nos observava essa manhã.
Nos olhava do alto, em nossa aflição
tão sem sentido para ela.
Ela não se importava com o tempo,
não se afligia com o passar das horas.
Não precisava lamentar as guerras nem os homens
que se matam uns aos outros.
Cortava o céu tão despreocupada,
que parecia só pensar na beleza daquele instante.
Ela me deixou o resto do dia um gosto de mar na saliva.

Tudo em nós impede nosso vôo.
Temos ambições e vaidades.
Nossa bagagem é pesada demais.
Nós, pobres criaturas de asas cortadas.




2 comentários:

  1. Ainda assim, você tem o privilégio de assistir ao vôo das gaivotas e ver a paz das amendoeiras nas manhãs de sua janela.

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  2. Márcia, você é um ser humano muito
    bonito, que fui descobrindo nas linhas
    e entrelinhas do amigo Quinan!

    E essa é uma verdade! Tenho as gaivotas e
    amendoeiras nas minhas janelas!

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