sexta-feira, 17 de abril de 2009

Por onde a poesia escorre


"Ele era poeta como quem se afoga.
Nas suas noites, sempre a poesia,
subitamente a vazar de
encanamentos mal
soldados
em suas pernas e seus braços,
e a invadir-lhe a casa,
perseguindo-o
da sala
para o quarto,
do quarto
para o banheiro,
do banheiro para
o escritório onde, exausto,
ele acabava por se trancar.

E seu corpo outrora vasto, já agora reduzido
pelas dolências, subia boiando
com o nível das águas
até o emparedamento total e a asfixia,
como nos antigos suplícios por afogamento
em recinto fechado.

E ele morria em seu noturno aquário,
esmagado pelo teto do infinito,
náufrago de si mesmo...

Um poeta como quem se afoga! "

Vinicius de Moraes escreveu o texto acima, na morte do poeta
Augusto Frederico Schmidt, que nasceu no Rio de Janeiro,
na Rua Marques de Abrantes, no Flamengo.
E que descubro, recentemente,
era casado com a sobrinha de Jaime Ovalle.
Mas essa é outra história.

2 comentários:

  1. Jac,

    Me sinto tão íntima desta frase: "náufrafo de si mesmo". Adoro.

    Coincidência, ontem só me veio o Augusto na cabeça!!
    Vivemos dela, das "coincidências". Ou será destino?!!

    Beijo,

    Ana

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